Mil Pedaços - Capítulo Quatro

POV. Edward
Nunca dirigi tão rápido na minha vida. As ruas passavam por mim como um borrão, meu coração pulava. Eu temia tanto. Temia pela vida da minha garotinha, temia por tudo o que pudesse acontecer. Temia por Bella não agüentar o que quer que fosse.
Eu já havia estragado tanto a vida dela, se acontecesse alguma coisa com Luce ela nunca me perdoaria, eu nunca me perdoaria.

Quando a porta do hospital já era visível, diminui a velocidade do carro e parei de qualquer jeito, não me importando nem um pouco se aquilo me renderia uma multa.
Assim que desci do carro, pude ver o de Emmett chegando e estacionando logo atrás do meu, minha mãe desceu correndo, vindo em minha direção, mas eu não podia parar, não agora, por isso, apenas os chamei para dentro, andei até a recepção com eles atrás de mim.
– Luce Cullen, por favor. – Minha mãe ficou estática ao meu lado, mas eu não ia dizer nada agora, primeiro eu encontraria com Bella. A moça apenas me olhou e disse:
– A única Luce que tenho aqui esta na sala de exames, ninguém pode vê-la agora, mas a mãe dela esta na sala de espera, se o senhor qui...
Corri para lá, nem deixando que ela terminasse.
– Edward o que foi que... – minha mãe parou assim que viu Bella, claro que ela a reconheceria, Bella não se importou com meus pais ali, pois assim que me viu correu para meus braços, seu rosto estava pálido e encharcado.
– Minha... minha... garotinha, Edward. – soluçou agarrada a mim. Eu não sabia o que Luce tinha, podia apenas ser uma virose, mesmo assim, senti um aperto no peito e foi inevitável não deixar que as lágrimas caíssem.
– Bella... – foi a voz de minha mãe que interrompeu.
– Esme. – falou apenas. A confusão no rosto da minha família era palpável, e eu vi ali que era hora para uma explicação, mas antes, eu precisava saber de Luce, eu tinha certeza que a aflição deles não era maior que a minha.
– O que aconteceu? – perguntei a Bella.
– Não sei, de repente ela estava bem, com mais sono que o normal, não comeu toda a comida, mas ela estava casada pelo dia que teve, achei normal. Ai dei um banho e ela disse que o pescoço doía um pouquinho, notei que estava meio rígido, mas eu apenas a deitei e dei o peito, por algumas horas nós dormimos bem, então ela acordou, com tanta febre. – Bella soluçou alto, totalmente desesperada. – E depois veio o vomito, a febre não baixava de jeito nenhum, por isso apenas vesti uma cala jeans e um tênis e corri com ela para cá. E desde então ninguém me da noticias. – ela caiu no choro outra vez. Pelo pouco que sabia de medicina, tinha uma leve impressão do que Luce tinha, mas eu não queria acreditar, não podia acreditar que fosse realmente o que estava pensando, Luce era tão pequena...
– Edward, não acha que devemos... – encarei meu pai, assentindo. Nos levei até as cadeiras na sala de espera e encarei Isabella.
– Estava contando para eles quando me ligou. – a boca dela se abriu em um perfeito O
– Pai, mãe. – comecei. – A pouco mais de dois anos, eu e Isabella nos envolvemos, éramos jovens, não pensávamos em conseqüências, apenas em diversão. Transamos algumas vezes. – olhei para Bella, de cabeça baixa, segurei sua mão. – E um tempo depois ela me disse que estava grávida, os pais a expulsaram de casa. Não vejo um jeito fácil para contar isso a vocês, por isso vou simplesmente falar e peço que me ouçam. – pausei. – O bebê era meu. Levei Bella a um apartamento que comprei, cuidei dela e de Luce. Minha filha. Hoje com dois anos. Pedi a ela que não contasse nada a vocês porque tinha medo de suas reações. Tenho ainda. Cuidei das duas. Comecei a trabalhar com você. – encarei meu pai. – E todos os fins de semana passava com elas. Lembro até hoje que, quando Bella me contou da gravidez e estava levando ela para o hotel, pedi para que me deixasse participar da vida de nosso bebê. Queria que minha filha tivesse um pai e que sentisse orgulho dele. Luce é a coisa mais linda e preciosa que tenho, e agora isso... – chorei. – Não vou me perdoar nunca se alguma coisa acontecer com o meu bebê. Não vou. Nada pode acontecer com ela, não pode.
Senti Bella tremer em meus braços, e lembrei que ela também estava sofrendo, e que eu precisava ser forte, por ela, por Luce. Meus pais ali, descobrindo toda a verdade da minha vida nos últimos dois anos, os mais importantes anos, pouco me importava. Eles não poderiam fazer nada, não agora.
Engoli o choro, e comecei a consolar Bella, dizendo-lhe que tudo ia ficar bem, mesmo que eu estivesse dizendo aquilo para convencer a mim mesmo, ela precisava ficar.
– Querido... – ouvi minha mãe sussurrar. Levantei os olhos para encará-la. Seu rosto bonito estava marcado por lágrimas, sua mão estava cobrindo a boca, o choque percorria-lhe o corpo inteiro, eu sabia disso. Meu pai e meu irmão também estavam chocados, eu não me importava, apenas queria saber de Luce. – Eu tenho uma neta. –continuou sussurrando. –Uma neta de um filho desnaturado que sequer me deixou conhecê-la. – franzi o cenho.
– Como... – meu pai me interrompeu.
– Acha justo nós sabermos dessa história desse jeito? Com essa garota aos prantos por causa da filha?
– Queríamos ter conhecido sua filha num hospital, Edward. – disse Emmett. – Mas sentados numa sala de espera, ansiosos para ver seu rostinho recém nascido. Não desse jeito. Você foi injusto conosco.
– Tirou conclusões precipitadas como fez desde pequeno. Foi irresponsável e não teve coragem de assumir seus atos. – minha mãe dizia, frustrada e chorosa. Eu apenas os encarava, sem ter o que dizer Bella ainda estava quieta, eu sabia que para ela, nada importava, meus pais podiam escorraçá-la, ela continuaria se importando apenas com Luce, isso deveria servir para mim também, mas eu estava em um momento que esperei pela vida inteira, não podia simplesmente esquecê-los. Ia dizer alguma coisa quando um médico perguntou pelos responsáveis de Luce Swan Cullen.
– Como esta a minha netinha? – minha mãe se pronunciou antes, secando as lágrimas dos olhos. O médico era um senhor alto, de cabelos grisalhos, de aproximadamente uns 45 anos, olhou para ela.
– Seja o mais sincero possível, por favor. – pediu Bella.
– Bom, ainda faltam alguns exames, mas com toda a experiência que eu tenho, posso afirmar que a criança... – ele parou, encarou cada um de nós, tomou fôlego, como se dizer aquilo doesse nele também. – A menina está com meningite.
Bella caiu em um choro profundo ao meu lado, agarrava-se a mim e se perguntava o que tinha feito de errado. Totalmente desesperada, o médico esperou até ela se acalmar, paciente. Apertei os dedos nos olhos.
– Pode... pode nos explicar, por favor? – pedi, tentando controlar a voz, o choro de Bella diminuiu.
– A meningite é a inflamação das meninges membranas que recobrem o crebro e a medula espinhal secundária a uma infecção. Uma infecção grave do Sistema Nervoso Central, podendo por em perigo a vida da criança. Pode causar inúmeras complicações e seqüelas neurológicas, como epilepsia, infartos cerebrais e retardo mental em crianças. Por esse motivo o tratamento precisa ser rápido. Fora do sistema nervoso a meningite também pode causar complicações. A doença inflamatória pode levar ao choque séptico e distúrbios da coagulação. As bactérias podem também se difundir para outros locais, causando endocardite e pioartirite. Além disso há registros de perda de parte da audição.E também rigidez na parte frontal da cabeça. Pode surgir de formas diferentes, através do contágio por diferentes bactérias, e por isso uma doença que apresenta quatro variáveis. Na idade da menina, mais provável a Meningite Meningocócica.
– Quando vão ter certeza do que ela tem? – meu pai perguntou.
A atenção do médico voltou-se totalmente para ele, o que eu agradeci, pois estava estático demais para perguntar o que quer que fosse. Meningite. Minha menina com meningite.
– E agora? – Bella chorou baixinho.
– Vai dar tudo certo, Bella. Você vai ver. Tudo vai ficar bem, eu te prometo. – mas foi só eu dizer isso para o meu mundo terminar de cair.
– Ainda precisamos fazer um ultimo exame. Só que esse... – os olhos do médico caíram.
– Que exame? – Bella quis saber.
– Vocês precisam entender que é para o bem da menina. Esse exame é feito precisa tirar um liquido da espinha dela. Chamado Cefalorraquidiano, o qual se encontra entre as membranas ou meninges e o encarregado de nutrir os componentes do Sistema Nervoso Central (crebro, cerebelo, bulbo, medula espinhal)..
– NÃO. – Bella gritou. VOCÊS VÃO MACHUCÁ-LA. MEU BEBÊ VAI SENTIR DOR, VOCÊS NÃO PODEM FAZER ISSO.
– Bella...
– NADA DE BELLA, EDWARD. ELES QUEREM MACHUCAR NOSSA FILHA, VOCÊ NÃO PODE DEIXAR ELES FAZEREM ISSO. NÃO PODE.
– Senhorita, peço que se acalme, não queremos machucar a sua filha, ao contrário, queremos o melhor para ela, mas não podemos medicá-la sem ter certeza do que a menina tem. – Isabella mais uma vez caiu em uma onda de choro. – Entendo como se sente, acredite, meus filhos também já estiveram doentes. Antes de fazermos isso, podem ir ver a criança no quarto. – a menção de ver Luce fez todos nós nos iluminarmos.
– Eu quero vê-la. Por favor.
– Ela esta um pouco chorosa, grita pelos pais. Antes de fazermos qualquer coisa, peço que conversem com ela, mesmo sendo difícil, a compreensão dela é fundamental para nós. – assentimos, seguindo-o em direção ao quarto onde Luce estava.
Quando o médico parou em frente a porta grande porta marrom. Virei-me para os meus pais.
– Entendo que possam estar com raiva de mim, mas Luce não tem culpa e eu realmente preciso de vocês agora. Por favor. – sussurrei, antes do médico abrir a porta e podermos entrar.
Lá estava ela, deitadinha em uma cama apropriada para seu tamanho, brincava com um urso de pelúcia que não era seu, a enfermeira que estava com ela sorriu para nós.
– Precisei entretê-la de alguma maneira. – sorri, agradecendo. Quando olhei para frente, vi Bella já agarrada a Luce. E, de novo, pedia desculpas enquanto a enchia de beijos.
– A mamãe te ama, amor. De verdade. E se vou concordar com o que vamos fazer, é para o seu bem, ta? – sorriu entre lágrimas quando Luce sorriu.
– Bem. – riu e bateu palmas.
– Edward... – minha mãe segurou minha camisa, como uma garotinha assustada, entendi o que ela quis dizer, e chamei a atenção de Luce.
– PAPAI. – gritou assim que me viu, e esticou os braços em minha direção, caminhei até ela, aninhando-a em meus braços, pedindo que meus pais chegassem mais perto.
– Mãe, pai, Emm. Essa a minha princesinha. Luce, amor. Esses são a vovó. – apontei minha mãe. – O vovô. – apontei meu pai. – E o seu tio Emm. – ela encarou a todos com muita curiosidade, sorriu como sorria para todos os outros, não demonstrou nenhum interesse especial, também, como poderia?
Os três se aproximaram dela, ansiosos para tocá-la. Minha mãe segurou uma de suas mãozinhas.
– Olá, Luce.
– Oi. – sussurrou.
– Meu nome é Esme, sou sua vovó, sabia? – e os três entraram em uma conversa com ela, Emm estava inquieto, queria a todo custo pegá-la no colo, por isso, quando Luce já estava mais confiante com todos eles, a deixei ali, sentada no colo do tio que tanto ansiava a conhecer.
Eu e Bella observamos de longe.
– Sempre pensei em como seria bom o primeiro encontro deles. Mas nunca pensei que seria assim... – sussurrou, tentando, ao máximo, controlar a voz.
– Também pensei em algo bem diferente disto, mas assim que Deus quis. Temos que aceitar.
– Como aceitar? Nossa filha corre um risco danado e você me fala em aceitar?
– Você entendeu o que eu falei. Nada vai acontecer com, Luce.
– Você ainda não é médico para afirmar isso. – e quando ela terminou de falar, o médico chegou, junto com ele mais alguns enfermeiros, ele nos encarou.
– Vamos começar? – assenti. – Um de vocês pode ficar com ela, apenas para acalmá-la.
– Eu fico. – disse Bella.
– De forma alguma, eu vou ficar com Luce, é o melhor.
– O que esta querendo dizer, Edward Cullen?
– Nada, não estou querendo dizer nada. Apenas que se você começar a chorar e se desesperar, o mesmo acontece com Luce e algo pode sair errado. Você quer isso?
– Não. – baixou os olhos.
– Por isso, Bella. Só por isso, peço que coopere, sabe que vou cuidar bem da nossa filha. – ela assentiu, com os médicos na nossa cola, andei até a minha família. – Cuidem de Bella, vai dar tudo certo. – murmurei.
Luce olhou para mim quando Emmett colocou-a no meu colo.
– Vai ficar tudo bem, princesa. – Bella falou em seu ouvido, depositando-lhe um beijo na testa. – Mamãe vai ali comprar um doce e um presente e já volta, ta? Enquanto isso seja uma boa menina e obedeça o papai. – todos os outros deram um beijo nela, fazendo-a rir. Luce nunca fora o centro das atenções de tanta gente, e só agora eu via que aquilo a agradava, quando estávamos sozinho, Dr. Josh me deu algumas instruções.
– Vai ser complicado de ver, mas tem que ser forte por ela.
– Eu sei. – ele se virou para Luce.
– Boneca, segure a mão do pai, ta? O titio vai fazer umas coisas que talvez você não goste, mas vai ficar tudo bem e logo vai passar.
Segurando forte em minha mão, observei o doutor colocar Luce em posição fetal logo depois de tirar sua blusa, ela riu quando ficou toda encolhida.
– Foi assim que você ficou dentro da barriga da mamãe. – tentei descontrair.
Primeiro Luce foi normalmente colocada de lado com o pescoço dobrado numa flexão completa e os joelhos encostados no tórax, em forma fetal. A área foi preparada com técnica asséptica. O local apropriado foi apalpado, o anestésico foi injetado. A agulha espinal foi inserida entre as vértebras lombares, e minha filha gritou de dor.
Meu coração se partiu assim que sua voz foi ouvida, torturante. Apenas tratei de acalmá-la, para que não se mexesse. Seu bem estar era muito importante agora.
Segundos depois o estilete da agulha espinhal foi então retirado e só recolhidas gotas de fluido cerebrospinal. Luce continuava resmungando, soluçando baixo enquanto eu conversava com ela. Terminado o procedimento, a agulha foi retirada enquanto faziam pressão no local do furo.
Pronto, estava feito. Havia acabado.
(...)
Estávamos eu e Bella no quarto com Luce, esperando noticias do médico, nossa filha dormia, totalmente cansada do que havia feito. Meus pais, depois de tanto eu insistir, foram embora junto com Emmett.
Dr. Josh entrou no quarto, uma expressão nada agradável no rosto.
– Vou direto ao assunto. Luce tem todos os sintomas de meningite: febre, rejeição a comida, irritabilidade, sonolência, vômitos. Isso podia muito bem ser confundido com uma gripe, mas não. Com o ultimo exame, comprovamos que Luce tem mesmo Meningite Meningocócica. Deixem-me explicar: A incidência da infecção meningocócica geralmente é cíclica, e normalmente surge nos primeiros meses do ano.
Este tipo de meningite é o mais comum e conhecido como Meningite C, que representa cerca de 55% dos casos.
A doença é mais freqüente em crianças com menos de 5 anos, com um pico de incidência no primeiro ano de vida. O que aconteceu com a filha de vocês.
Podemos tratar essa meningite com N maneiras. Há vacinas para isso, como Luce tem mais de 12 meses, tomara uma única dose por ano. E vamos começar um tratamento com antibióticos.
– E as seqüelas, doutor? – Bella perguntou, visivelmente mais controlada que eu.
– Várias seqüelas podem aparecer caso não formos bem sucedidos. Mas posso assegurá-los que nada acontecera.
– Que tipos de seqüelas? – insistiu.
– Cegueira, surdez, entre outros.
– Quando começamos com o tratamento? – questionei.
– O mais rápido possível. Antes, entendam que a meningite é causada por uma bactéria que se propaga ao cérebro da criança através do sangue. A criança pode adquirir a doença após ter tido uma infecção em outra parte do corpo, como o ouvido, nariz ou a garganta. Pode também adquiri-la depois de sofrer uma lesão na cabeça. Luce deve iniciar o tratamento com antibióticos adequados o quanto antes, para evitar complicações e seqüelas posteriores.
(...)
Terça-feira de manha. Luce havia sido medicada e estava liberada para ir para casa.Minha família e eu fizemos a cabeça de Bella para que ela ficasse em casa conosco, assim eu ficaria mais tranqüilo, Bella e Luce teriam ajuda de minha mãe e não ficariam sozinha em casa. Todos nós saíramos ganhando. O que minha filha tinha era sério, mas depois de um tempo conversando com o doutor, concluímos que, se fizéssemos tudo certo, obedecendo horários de remédio e tendo o máximo possível de cuidados, Luce voltaria a ser uma criança normal. Estaria curada. Sem qualquer tipo de seqüela.
Minha felicidade era tão grande que quase não me contive quando vi minha menina sentada em sua cadeirinha no banco de trás de meu carro. Não era comum eu segurar na mão de Bella enquanto dirigia ou enquanto fazia qualquer outra coisa, mas estávamos passando por um inferno e precisávamos ficar juntos. Ficaríamos juntos. Por nossa filha. Mesmo estando em uma situação difícil, eu me senti feliz por saber que as estava levando para casa, suaverdadeira casa.

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