Mil Pedaços - Capítulo Dois

POV. Bella
– O que você vai querer? – Edward me perguntou, dei nos ombros, fome era o que eu menos tinha e o que ele escolhesse estava de bom tamanho. Luce resmungou em meu colo, e minha atenção foi para ela.
– O que foi, querida? – perguntei, acariciando seu cabelo. Ela suspirou.
– Fome. Soninho. – sorri.
– Quer um pouquinho de cenoura, amor? – ela fez careta.

– Bella, cenoura é nojento.
– Edward, Luce é uma criança, precisa de cenoura, frutas e legumes, deixe de ser mais criança que ela. – me virei para Luce.
– Seu papa chega logo. Tem que ter calma né. – ela continuou resmungando, Edward me olhou, rolou os olhos e a pegou do meu colo. Ele murmurou algumas coisas para Luce, mas ela continuou com a cara fechada e resmungando, eu ri.
– Bem feito, achou que era capaz?
– Porque ela esta resmungona? – perguntou, ignorando-me.
– Luce já respondeu essa. Ela esta com fome e com sono. – falei, como se fosse a coisa mais obvia do mundo, e, na verdade, era.
Um tempinho passou enquanto esperávamos, tentamos de todas as maneiras fazer com que nossa filha risse, mas ela apenas ficou mais chata e chamou por mim.
Depois de estar em meu colo, enterrou a cabeça em meu peito e continuou a resmungar, como se estivesse brava com a gente. De tão concentrada que estava em niná-la, só percebi a bela mulher alta e loira ao lado de Edward quando ele me chamou.
– Bella. Essa é uma amiga da minha família. Tânia. E essa é uma amiga minha, Bella. – ela me olhou, sorriu, e depois seus olhos caíram para o meu colo, para Luce.
– Olá. – murmurou. Sorri de volta para ela. Tânia se virou para Edward e murmurou mais alguma coisa, que não pude entender porque Luce resolveu conversar comigo. Ela levantou a cabeça e me encarou, algumas palavras desconexas saiam de sua boca pequena, uma expressão zangada no rosto. Pelo barulho que ela estava fazendo, outras vez a mulher pos sua atenção na gente.
– Porque não senta conosco, Tânia? – perguntou, ela sorriu e sentou-se em uma cadeira que Luce ocupava a pouco, entre nós. – Tânia foi estudar fora a alguns anos, Bella, voltou agora e nem nos avisou. – eles riram. Luce fez outro som zangado. Tânia a encarou.
– É sua filha, Edward? – me remexi na cadeira, desconfortável. Edward me encarou, aparentemente, desconfortável também. A resposta de Edward me incomodaria, de um jeito ou de outro, eu sabia disso.
– Ah, não. Ela é filha de Bella. – trinquei os dentes. Luce me encarou com aquele rostinho de “Ah?” beijei sua cabeça. Engolindo em seco a vontade de chorar.
– Com licença. – pedi, indo em direção ao banheiro, senti os olhos de Edward me acompanharem.
Dentro do banheiro, sentei Luce na beira da pia e lavei meu rosto. Ela choramingou.
– Fome. – suspirei. Minha bolsa estava na cadeira, a mamadeira dela estava dentro, mas eu não queria voltar para lá e encarar Edward. Não quis dar o leite antes para ela porque eu queria que ela jantasse, mas mus planos tiveram que mudar. Algumas vezes ela mamava no peito, era um lugar impróprio, mas eu não sairia dali tão cedo, a peguei no colo, deitando-a em meus braços, levantei o lado esquerdo da minha blusa, ainda bem que eu tinha o costume de usar sutiãs que abrem na frente, ela riu alto quando aproximei sua boca de meu seio esquerdo. Enquanto Luce sugava comecei a andar de um lado para o outro, na intenção que ela dormisse, estava funcionando, o banheiro antes vazio, estava com algumas mulheres entrando e saindo, nenhuma deu importância em me ver amamentando, minutos depois, estávamos sozinhas outra vez.
– Porque tem que ser assim, hein? – perguntei encarando meu bebê, que aos poucos deixava fraca a pressão em meu mamilo. Seus olhinhos tremeram, quase se fechando, suspirei quando sua boca soltou meu seio.
Ajeitei Luce em meus braços, arrumei minha blusa e fechei – com muito esforço – meu sutiã. Sai do restaurante pela porta dos fundos, ainda conseguia ver Edward sentado, conversando desconfortavelmente com a loura. Ele sabia como eu odiava as vezes que ele negava a paternidade de Luce, não foi muito difícil chamar um táxi, graças a minha mania de ter dinheiro no bolso – desde criança eu não gostava de carteiras, estava sempre com o dinheiro em bolsos de jaquetas ou calças – eu teria para o táxi. Disse o endereço do apartamento onde morava, enrolei Luce em meu casaco, só em pensar nela com frio eu já me sentia culpada. Não demoramos muito a chegar, paguei o taxista e entrei no apartamento, mais calma por estar sozinha e incomunicável já que o celular que eu tinha estava na bolsa na cadeira ao lado de Edward. Deitei Luce em seu berço e fui direto para o banheiro. Mesmo tendo tomado banho e pouco mais de uma hora, e me sentia necessitada de água quente escorrendo pelo meu corpo, aproveitei para lavar os cabelos de novo, minha garganta ficava travada toda vez que eu lembrava das palavras de Edward.
Ah, não. Ela é filha de Bella.
Ah, não. Ela é filha de Bella.
Ah, não. Ela é filha de Bella.
Ah, não. Ela é filha de Bella.
Desgraçado. Eu sentia tanto ódio dele, tanto ódio, que chegava a pensar na possibilidade de sumir com Luce, sem deixar pistas, ai ele ia poder dizer que não tinha filha, viver tranqüilo com os pais dele. Tinha horas que eu chegava a ficar arrependida por deixá-lo tocar em mim, por ter deixado ele transar comigo, não por eu ter engravidado, mas justamente por ele esconder Luce do mundo. Depois de eu descobrir que estava grávida, dormi com Edward apenas uma vez. Quando minha barriga estava consideravelmente grade – com seis meses – e eu me sentia tão feio, tão gorda, tão terrível, que acabou acontecendo, e depois, nossa relação começava a ficar a mais fria possível. E quando ele dizia a alguém que ela não era filha dele, minha vontade era de congelar para ele. Ri amarga lembrando da expressão de Luce. Confusa.
Desliguei o chuveiro, me sentido um pouco melhor, me enrolei na toalha bem quando a voz de Luce era audível.
– MAMÃE. MAMÃE. – ri. Desde que aprendera a falar Mamãe e Papai, sempre que queria alguma coisa ela gritava. E, acredite em mim, Luce tinha um belo pulmão.
Fui até o quarto. Ela estava sentada no berço.
– O que foi meu, amorzinho?
– Teita comigo? – sorri para o jeitinho meigo que ela falava. Meu coração de mãe ficava ainda mais cheio de amor.
– Vou colocar o pijama, ta coisa linda? – apertei suas bochechas. Correndo para vestir alguma coisa, quando fiquei pronta, peguei-a no colo e nos deitei na cama.
– E o papai? – questionou com o rosto perto da minha barriga.
– Ele já vem, foi comprar um doce para você. – menti, não sabia nem se ele ia voltar para cá, hoje. Luce logo adormeceu, tirei as roupas pesadas dela, a deixando apenas de meia, uma camisetinha e fralda, dentro de casa era bem quente, não tinha problemas em ela ficar assim. Ouvi um barulho vindo da porta, e bufei, quem mandou ele voltar?
Levantei rápido da cama, pegando um casaco longo, passei por Edward no corredor entre a sala e os quartos.
– Bella... – começou.
– Luce esta no quarto, fique lá com ela, vou sair. – murmurei sem o encarar.
– Onde você vai?
– Não sei. – menti, pois eu sabia exatamente para onde ia. O deixei para trás sem dizer mais nada, outra vez pedindo um táxi. Indo para o mesmo parque em que contei para Edward que estava grávida. Quando cheguei, procurei aquele mesmo banco de dois anos atrás. Eu tinha passado por tantas coisas depois de sentar ali. O nascimento da minha filha. Meu caso mal resolvido com Edward, passei por tantas alegrias e tantas tristezas, e agora, nada me deixava mais triste do que saber que minha filha não era totalmente aceita. Se ele tinha medo dos pais, era porque sabia que alguma coisa poderia acontecer a ela. Suspirei, encarando a noite.
– Seria tão menos complicado se eu tivesse usado a minha inteligência, não é. – murmurei. – Eu podia ter terminado meus estudos. Começado uma faculdade. Como será que meus estão? – perguntei, um vento passou por mim, congelando minhas mãos expostas e também meu rosto.
– Eu não sei, você não sabe como eles estão por culpa deles. – levei um sobressalto, olhei para o lado vendo Edward ali, tentei ficar o mais normal possível enquanto ele se sentava ao meu lado.
– Se eu te pedir desculpas, você aceita? – dei nos ombros, como se pouco me importasse com o que ele me falaria ou não. Mas, na verdade, tudo dependeria do que ele falaria, ou não.
– Você não tem que me pedir desculpas.
– Tem certeza? – não.
– Sim. – sussurrei.
– Eu sei que você não tem certeza de nada, tem só 17 anos. – eu ri.
– Você se acha tão mais velho, mas tem quanto? 21?
– 22. – me corrigiu.
– Quem se importa, o dia que 22 e 21 for uma grande diferença... – suspirei, quantas vezes eu havia suspirado de cansaço naquele dia?
– Porque veio atrás de mim?
– Me senti culpado. Tânia me perguntou porque você não saia do banheiro, se ela tinha feito ou falado algo errado. Então ela foi atrás de você e não te encontrou mais. – ele riu baixinho. – Fiquei puta da vida com você, me perguntando onde você tinha ido, Tânia ficou mais um tempo conversando, mas eu estava louco para vir atrás de você... vocês. – se corrigiu. – Me desculpe, de verdade Bella. Mas fico tão sem saber o que fazer que acabo falando besteira, eu sei que a gente sempre volta para o mesmo ponto... – o interrompi.
– Se dependesse de mim esse ponto teria sido um problema. Se seus pais não quisessem minha filha.
– Nossa filha. – ignorei.
– ... eu teria dado um jeito.
– Como? – perguntou. – Seus pais tinham te expulsado de casa.
– Eu não sei. – falei um pouco alto. – Tudo menos estar assim agora. Parece que você não a aceita, que tem vergonha de nós, quer saber, estou pouco me lixando se esta perto de mim por obrigação ou pena, eu só me importo com a minha filha. O que você acha que vão falar para daqui a pouco tempo quando ela for para a escola? Eu queria muito saber o que ela diria hoje a noite se soubesse falar, porque entender ela entende.
– Eu sei, o seu problema é que esta sempre pensando só em você. Como acha que eu me sinto? Sempre que minha mãe fala com a minha irmã sobre netos eu me lembro de Luce. É tudo sobre ela, Bella. Cada coisa que eu faço, cada decisão, é sobre ela sempre, minha maior prioridade. – dessa vez, quem suspirou foi ele. – Eu estou tão cansado disso, não é só você.
– Vou esquecer que você insinuou que sou egoísta. – bufei. – Para você não conta o sacrifício que eu faço e fiz por ela, só os seus. – Edward me virou para ele e segurou minhas mãos.
– Vamos esquecer isso? Por favor. Eu só quero ficar bem com você para poder ficar bem com Luce. Não é saudável para ela presenciar nossas brigas.
– Como se eu não soubesse.
– Mas então... Me perdoa? – o que eu poderia dizer a ele? Que não? Não adiantaria, ele ia continuar em minha vida, para sempre, visitando Luce e tudo o mais. Se eu perdoasse? Eu sabia que ele ia continuar fazendo a mesma coisa, sempre, até contar para os pais dele.
– Tudo bem, eu te perdôo. – sorri fraquinho, mesmo que essa não fosse a minha vontade. Pelo menos, não por agora. Deixando isso para lá, me perguntei outra coisa.
– Edward... – ele me encarou. – Com quem deixou Luce? – ele riu alto.
– Vamos para casa. – mas eu tinha outra duvida, uma bem importante.
– Como sabia onde me encontrar.
– Eu viria para esse mesmo lugar se fosse comigo.

0 comentários:

Postar um comentário