Destinos Cruzados - Capitulo Um

Desliguei a luz do quarto das meninas e fui pro meu. Estava noite e muito, muito frio. Parecia que ia chover e eu ainda precisava fechar a janela da sala. Andei pelo corredor que separava os quartos da sala e logo pus minhas mãos para frente e puxei a janela. Eram dez da noite ainda e eu não sentia sono, por isso me sentei no sofá, em frente a ele havia um porta retrato de Anne e Krissy. Foi tirada no fim do ano passado quando Anne tinha seis anos e Krissy dois. As duas riam e se abraçavam, era bem bonito, considerando o jardim que tinha atrás dela. Quando olhei para aquela foto, automaticamente me lembrei de tudo o que passamos até chegarmos aqui.

Logo após sair do orfanato e sentar naquela praça, eu procurei um telefone publico e liguei para a única pessoa que eu conhecia e sabia que era de confiança em Port Angeles: Jacob Black.
Ele era filho de um grande amigo de meus pais e quando eles me morreram eu gravei o numero de seu celular quando ele disse que qualquer coisa era só eu ligar, na época achei que aquilo era uma coisa boba, mas depois fiquei agradecida por ter uma memória boa e conseguir decorar os números.

O celular chamava e chamava e ninguém atendia, quando atendeu e começou a tocar aquela musica de chamada a cobrar, desligaram, tentei não dizer nenhum palavrão perto de Anne, tentei mais duas vezes, e na terceira, atenderam.

- Olha aqui, seja lá que for, da para parar com...

- Jacob. – interrompi, com um suspiro de alivio.

- Quem fala?

- Isabella. Isabella Swan. – ele murmurou um “ahh” confuso antes de perguntar.

- Aconteceu alguma coisa? – você nem imagina quantas. Balancei a cabeça.

- Eu... preciso da sua ajuda, por vir me buscar? Eu e Anne? Prometo te explicar tudo se nos ajudar.

- Tudo... tudo bem, me diz onde vocês estão. – eu busquei loucamente por algum lugar que pudesse servir de ponto de referencia para onde estávamos, tirando a praça, eu encontrei uma farmácia de nome bem incomum, disse a ele, disse também que ficava perto de uma praça.

- Sei onde fica, em dez minutos eu chego ai, cuidado, Bella. Está noite, tome cuidado.

- Certo. Obrigada. – eu não tive respostas, a chamada já havia sido finalizada, me virei para Anne, que quase dormia sentada com Krissy no colo, cheguei perto e peguei a bebê, beijei o topo da cabeça de Anne e a trouxe para mais perto.

- Vai ficar tudo bem, amor. Eu tenho certeza. – ela assentiu, sonolenta. Não muito tempo depois, um carro todo preto parou a nossa frente, primeiro eu senti medo, e se não fosse Jacob? E se fosse alguém que pudesse nos fazer mal? Meus medos passaram quando um moreno alto saiu do carro. Instantaneamente eu soube que era Jacob, eu o vi a alguns meses atrás no enterro e sabia reconhecê-lo.

- Bella? – eu sorri.

- Oi. – sua próxima pergunta foi bem previsível.

- De quem é esse bebê. – e então eu contei tudo para ela, tudo, o incêndio no orfanato, minha idéia de fugir, o bebê no meio de tanto fogo, exatamente tudo. E, também, a minha idéia de cuidar dela.

- Entrem no carro. – pediu, nós entramos, Anne assim que sentou num banco mais confortável e quente adormeceu, Krissy abriu os olhos quando me remexi muito mas logo ficou confortável demais para ficar acordada.

Jacob começou a dirigir.

- Você é realmente louca. – isso me fez sorrir um pouco.

- Obrigada?

- Como vai cuidar dessas crianças? – eu suspirei.

- Preciso da sua ajuda para isso. – ele me encarou, me encarou muito, muito chocado. – NÃO. Não preciso da sua ajuda para cuidar delas.

- Então para que? – ignorei sua pergunta.

- Para onde está nos levando?

- Minha casa, precisam dormir um pouco. – assenti. – Vai me falar?

- Meus pais tem uma casa em uma cidade perto daqui. Forks. Queria que me levasse para lá e... e...

- E...?

- E falsificasse alguns documentos. Preciso de uma identidade que diga que tenho 18 anos, certidão de nascimento e um documento que comprove que eu tenho a guarda delas. – convencer Jacob a isso foi mais difícil que pensei. Chegamos na casa dele e ele logo nos mostrou um quarto, como Anne estava adormecida, ele a pegou no colo, mas logo acordou, estranhando, ele ofereceu algo para ela comer, me deixou preparar um lanche.

- Posso segurar a bebê enquanto faz isso. – assenti, passando-lhe Krissy.

Ele me mostrou onde ficava a comida e mandou eu ficar a vontade. Fiz um copo de leite e sanduíche para Anne, ela comeu com gosto e depois, pediu para dormir, Jacob levou ela ao mesmo quarto de quando chegamos.

- Bella. – chamou, antes que eu saísse, voltei para perto da cama.

- O que foi, amor? – sua mãozinha foi para o meu rosto.

- Vai ficar tudo bem mesmo? – senti uma dor no peito ao ouvir aquilo. Ela estava com medo do que poderia acontecer com a gente, mas eu tinha de acalmá-la.

- Vai amor, vai dar tudo certo. – ela sorriu.

- Obrigada.

- Pelo que?

- Por cuidar tão bem de mim, eu te amo. – murmurou, com os olhos se fechando.

- Também te amo. – beijei sua testa, e sai dali.

Voltei para a sala onde encontrei Jacob com Krissy no colo, era estranho ver ele – tão grande – segurando ela, tão pequena.

- Ela dormiu?

- Aham.

- Acho, acho que esse bebê ta com fome. Mas, não tenho nada que ela possa comer.

- Tem aqueles biscoitos salgados? Umas bolachas quadradas e finas? – ele riu dos detalhes que eu dei.

- Tenho. Pode dar a ela, mas ela come?

- Não, quero dizer, eu esmago ela com o leite e ela come.

- Que nojo. – rolei os olhos e fui para a cozinha junto com ele, Jacob me deu o pacote de bolacha e eu esmaguei junto com o leite, peguei Krissy no colo e a sentei, de pouquinho em pouquinho, ela comeu tudo.

Depois que dormiu, eu pude conversar com Jacob, ele concordou em me ajudar com tudo que eu precisasse, só ficou em duvida em relação aos documentos falsos.

No outro dia, bem cedo, nós fomos de carro até Forks, quando chegamos em frente da nossa casa eu me senti mal, meus pais gostavam tanto daquela cidade, daquela casa. Eu sentia falta deles, antes daquele maldito acidente aéreo era tudo tão perfeito para mim.

Tivemos que quase derrubar a porta, já que não tínhamos a chave, lá dentro pude ver toda a mobília de antes, aquela era tipo uma casa de férias para os meus pais e por isso ela estava toda mobiliada. Não era de luxo, mas seria perfeita para mim e as meninas. Tinha só um andar, dois quartos, um banheiro, cozinha, sala e a garagem. Tinha um pátio muito bonito pro fundo, seria perfeito para esse nosso recomeço.

Lembro de como foi difícil os primeiros dias que ficamos sozinhas. Jacob teve que ir embora e me obrigou a aceitar um dinheiro para comprar roupas e comida. Aquele dinheiro foi o suficiente para nos manter enquanto eu não achava uma creche para elas e um trabalho para mim. Não sei como, apenas Deus, porque no dia em que eu tive a resposta de que elas estavam aceitas na creche, eu consegui o emprego no supermercado.

Lembro muito bem daquele dia, eu cheguei em casa sorrindo feito uma boba, as meninas estavam comigo – e quase todo mundo me olhava torto por ter um bebê nos braços e segurando outra pela mão –, Anne era a única que podia entender alguma coisa mas mesmo assim foi um mistério para ela tanta felicidade, eu dormi bem naquele dia, muito bem, como a muito tempo não dormia. Quando amanheceu, Anne não entendeu o porque de levantar cedo, mas não reclamou. Eu me vesti, e fui com elas para a creche. O bom de morar em uma cidade pequena, era que não era muito estranho você andar a pé. Doeu em mim quando tive de deixá-las, mas eu sabia que era para o bem delas, foi pior ainda passar Krissy para os braços de outra mulher, havia vários outros bebês ali, bem cuidados por sinal. Com a carteira de identidade falsa e a de motorista também, não foi difícil conseguir comprar um carro, com meu segundo salário eu consegui comprar uma picape, ela era bem antiga, mas funcionava bem. Isso ajudou. Com o passar do tempo, as coisas foram se ajeitando, e aqui estava eu agora, na minha casa, com um emprego digno – um ano e pouco depois eu sai do supermercado porque um estúdio de fotografia tinha acabado de abrir na cidade e precisavam de uma secretaria, o salário era melhor e depois de uma entrevista o emprego era meu – e conseguindo cuidar das minhas meninas. Krissy, meses depois de estar comigo, começou a falar, e eu me surpreendi quando ela me chamou de mãe. Eu chorei naquele dia, feito uma bobona, e era assim que ela me chamava ainda, com 3 anos de idade, era uma criança linda. Como Anne, que ficava cada vez mais impossível, com seus 7 anos, dizia que podia tomar conta de si sozinha, que não precisava mais de mim, me dizia que era para mim sair e arrumar um namorado que eu estava precisando. Eu só ria.

Um barulho fez eu virar para em direção ao corredor atrás de mim. Era Anne, que esfregava os olhos com força e lambia os lábios.

- O que foi, amor? – perguntei. Ela chegou mais perto de mim e deitou no meu colo.

- To com sede, esqueci de levar minha garrafinha de água pro quarto.

- Ah... vai deitar que eu levo para você. – ela assentiu, mas não se mexeu, levantei e a coloquei onde eu estava sentada, fui até a cozinha e peguei a garrafa com água da geladeira. Voltei para a sala e parei ao lado de Anne.

- Amor, eu não consigo mais com você no colo, levanta, vem. – ela levantou, mas apoiou seu peso em meu corpo, o que não adiantou muita coisa.

Entramos no quarto e eu a ajudei a deitar na cama, ela bebeu a água e deixou a garrafa do lado da cama, ao lado, vi a cama de Krissy, e lá estava ela, toda encolhida. A quase um ano ela deixou de dormir comigo, estava ficando grandinha e eu achei melhor acostumá-la a dormir na cama desde cedo. No começo foi difícil, quase toda a madrugada ela fugia pro meu quarto. Mas depois acostumou.

Dei um beijo em cada uma e fui para o meu quarto, totalmente vencida pelo sono deitei na cama e dormi.

(...)

- Mãaaaae. – abri os olhos, assustada. A voz de Kris estava bem perto de mim e descobri o porque logo depois, ela estava quase em cima de mim, na cama.

- O que... o que foi? – ela sorriu, os olhos verdes brilhando e o cabelo dourado e com cachos todo bagunçado.

- Nada, é que eu to com fome.

- Ahh... Kris. Você não podia simplesmente pegar um biscoito no armário? É domingo e eu queria tanto dormir. – ela fez uma cara, aquela carinha que me fazia sentir culpada por não dar o que ela queria.

- Mas eu quero leite. E eu não alcanço.

- Ta bom. – resmunguei, empurrando as cobertas para o lado.

Levantei e preparei o café de Anne também, ela ainda dormia. Deixei Krissy comendo e assistindo desenho na sala e voltei para o quarto, não demorou muito e eu voltei a dormir.

(...)

- O que vão querer para o almoço? – questionei.

Estávamos as três atiradas no chão, nenhuma com a mínima vontade para levantar, mas estava ficando tarde e elas tinham de almoçar, só que, a chuva que caia do lado de fora não ajudava em nada com o animo.

- Hum... faz macarrão? Eu amo macarrão, o que acha Kris?

- É, macarrão. – falou, mexendo a cabeça de um jeito engraçado e olhando para mim com cara de obvio.

- Ta bom, então o prato de hoje será MACARRÃO.

- EBAAA! – gritaram juntas.

Fui para a cozinha, quando a comida estava quase pronta pedi para que Anne arrumasse a mesa. Fiz um suco de laranja e pus em cima da mesa, com a comida pronta, servi as duas, me servi e sentamos. Estávamos começando a comer quando ouvi uma batida na porta.

- Eu vou. – murmurou Anne. Mas Krissy, nada curiosa, colocou as pantufas e saiu correndo atrás. Ouvi a porta abrindo e depois o grito das duas.

- TIO JAKE. 

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