Destinos Cruzados - Prólogo

Eu via as chamas se alastrando por todo o lugar. Algumas partes do orfanato estavam caindo e várias crianças estavam presas. Eu podia ouvir seus gritos de terror, podia ouvir as madres pedindo para que ficássemos calmos, mas eu apenas ouvia. Meus olhos percorriam cada canto daquela sala. Minha irmã menor estava em algum lugar e eu não podia deixar nada acontecer a ela, era minha única família agora. Ignorando os gritos e pedidos para que não saíssemos de onde estávamos, eu pulei de onde estava e subi as escadas, tendo o cuidado de não me queimar. O cheiro da fumaça estava começando a me afetar e eu pensava em como Anne estaria, ela tinha só quatro anos.

Corri ainda mais e quando cheguei no andar onde os menores estavam, vasculhei cada canto até encontrá-la. Encolhida em um canto ao lado de uma cômoda, seu pequeno corpo coberto apenas pela fina camisola e uma jaqueta grossa por causa do frio que estava antes do incêndio. Quando me viu, seus pequeninos olhos azuis, como os de mamãe, ganharam um brilho além dos das lágrimas. Ela correu a mim e sem nenhuma palavra nos levei até o outro lado do quarto. Para poder fugir dali ainda teríamos de passar pelo berçário, não seria difícil, ninguém mais estava lá, os bebês tinham sido os primeiros a serem socorridos. Ao tentar passar pela porta, vi a madeira que estava em cima cair a centímetros de mim, segurei Anne com mais força e tentei abafar seu grito. Se alguém nos pegasse, poderíamos ser separadas e mandadas para diferentes orfanatos.

- Anne, amor. Escute, atrás daquela porta. - apontei para a porta que tinha do outro lado do berçário. - Tem uma escada que leva até os fundos do orfanato, quero que você corra, esquece de mim, só corre. - ela chorou.

- Não vou deixar você. - eu sorri.

- Não vai, vou estar logo atrás, prometo, mas quero que corra e não olhe para traz, caso... caso eu não consiga sair, você tenta ficar junto com as crianças que já estão lá fora. - a contra gosto, ela assentiu, começamos a andar com cuidado, qualquer passo em falso poderia nos matar. Mas então eu parei.
No maio de tantos berços queimados, tinha um, apenas um com um bebê dentro. Deus haviam esquecido um.


Sem pensar duas vezes, eu passei por todo aquele fogo e peguei a pequena criança, eu sabia quem era, tinha chego ao orfanato a pouco tempo. A enrolei em meu casaco e voltei a andar, dessa vez com pressa. Anne já estava na porta, e sorriu quando meu viu, mas ficou confusa quando me viu com alguma coisa nos braços.

Não a deixei falar, com pé, empurrei o vidro que nos separava da escada, quando fiz um buraco grande o bastante para passarmos, fiz Anne descer primeiro, logo depois, eu desci, com aquele bebê no colo. Quando chegamos no chão, eu não pude acreditar que estávamos vivas. Corri o máximo que pude. E parei em frente a uma praça.

Anne sentou ao meu lado, abraçando as pequenas perninhas.

- O que vamos fazer agora?

- Eu não sei.

- Porque você pegou esse bebê? – e então eu olhei para baixo. O bebê em meu colo tinha pouco mais de seis meses, era uma menina linda que eu havia ajudado a cuidar quando chegou no orfanato. Tinha olhos verdes e cabelos num tom de loiro muito lindo, branquinha como a neve, e tinha também uma manchinha abaixo do queixo, quase imperceptível, mas estava ali. A chamávamos de Krissy. Não havia respostas para aquela pergunta. Eu apenas não podia deixá-la lá. Eles não entrariam mais naquele quarto e a bebê morreria queimada, era cruel demais.

- Ela... ela é bem pequena, não podia deixá-la sozinha, e... se voltarmos para devolver, vão nos pegar e nos mandar para orfanatos diferentes. – Anne me encarou, os pequenos olhos assustados.

- Eu não quero ficar longe de você.

- E não vai amor, não vai, eu prometo.

Eu só não sabia se poderia cumprir aquilo, tinha apenas 15 anos e uma responsabilidade grande demais.

Eram duas crianças agora, minha vida teria um rumo totalmente diferente, as duvidas me matavam e eu tinha medo do futuro próximo. No entanto, quando senti os braços de Anne a minha volta, contornando meu pescoço, e o bebê agarrar minha roupa, eu tive certeza de que as coisas dariam certas. Porque eu faria dar certo.

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